terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Obras completas de Dostoiévski



Simplesmente o maior escritor de todos os tempos.


A obra completa de Fiodor Dostoiévski é uma coleção em quatro volumes, que trazem todo o material escrito por este grande romancista como "Crime e Castigo" e outros menos conhecidos como "O Senhor de Prokhárchin" e algumas passagens do diário do autor.

Veja a relação do conteúdo desta obra:

Volume 1: INTRODUÇÃO GERAL - NOVELAS DE JUVENTUDE: Pobre gente - O duplo - O senhor Prokhártchin - A dona da casa - Um romance em nove cartas - Polzunkov - Coração frágil - O ladrão honrado - A mulher alheia - A árvore de Natal - Noites brancas - Niétotchka Niezvânova - O pequeno herói - O sonho do tio - A granja de Stiepântchikovo

Volume 2: OBRAS DE TRANSIÇÃO: Humilhados e ofendidos - Memórias da casa dos mortos - Uma história aborrecida - Notas de inverno sobre impressões de verão - Memórias do subterrâneo - ROMANCES DA MATURIDADE: Crime e Castigo

Volume 3: O jogador - O idiota - O eterno marido - Os demônios

Volume 4: O adolescente - Os irmãos Karamázovi - OUTROS ESCRITOS: Esquema para o grande pecador - O crocodilo - O Mujique Márei - Uma doce criatura - O sonho de um homem ridículo - Excertos do diário de um escritor.

* Editora: Nova Aguilar
* ISBN: 852100074X
* Ano: 2004
* Edição: 1
* Número de páginas: 5064
* Acabamento: Capa Dura
* Volumes: 4


O modo como as obras do escritor russo Fiodor Dostoievski penetraram no meu dia-a-dia foi muito curioso. Embora ouvisse muito falar de suas obras, pouco interesse tinha eu sobre as suas ficções.

O ano era 2005. Até então eu havia construído em meus pensamentos a idéia de que obras de "ficção" não valiam a pena ser lidas. Pessoalmente, minha atenção era restrita aos livros de História, pois era exatamente a faculdade que eu cursava naquele momento.

Assim, meu conhecimento sobre literatura em geral era significativamente limitado. Clássicos brasileiros eu havia lido alguns durante os anos do Ensino Médio e só. Ao entrar no Curso de História me concentrei em títulos acadêmicos.

Com o tempo fui percebendo a íntima ligação entre história e literatura, e, mais adiante, entre literatura e filosofia, outro tema que também me chamava a atenção. Assim, em março de 2005, mês em que minha mãe faz aniversário e no qual ocorre a Feira do Livro de Santa Maria, resolvi dar como presente um livro de literatura, tendo em vista que observei seu gosto para leituras das mais diversas. Evidentemente, no meu ato de dar o presente estava ali contido o meu secreto desejo de tomar contato com um autor que muito ouvia falar. Resolvi, assim, adquirir o livro de bolso de Dostoievski intitulado O jogador, da editora L&PM. Ao mesmo tempo que dei o livro como presente de anivserário para minha mãe, pude desfrutar posteriormente da possibilidade de ler um clássico. Assim foi que um livro do autor foi parar, pela primeira vez, nas estantes de minha casa.

Para o leitor compreender os motivos que me levam a afirmar que Dostoiévski é o maior escritor de todos os tempos, me proponho nesse pequeno texto a esclarecer de que modo cheguei a esta conclusão.

Primeiramente se faz necessário ter em vista que as conclusões as quais chegamos (tal como a afirmação anterior que fiz sobre o escritor russo) nunca podem ser explicitadas claramente, dada a complexidade dos pensamentos que cercam e influenciam nossas mentes ao longo de nossa vivência. O arcabouço cultural que edificamos durante o tempo, certamente repercute de diferentes modos em cada indivíduo, o que possibilita a cada um formular outras conclusões, por vezes radicalmente distintas das nossas. Em resumo, o que pretendo afirmar é que um determinado autor só se torna para nós o melhor ou um dos melhores, na medida em que ele responde a algumas das nossas necessidades como leitor. E tais necessidades são inúmeras, sejam de ordem intelectual, sentimental, acadêmica, filosófica, política ou puramente literária. Logo, como qualquer sujeito possui uma história de vida peculiar, as suas necessidades literárias serão, em alguma medida, tão diferentes quanto as situações que sua vida acabaram por determinar. Para exemplificar o que digo, lembro que para alguém que se acostumou a discutir futebol durante uma boa parte de sua vida, provavelmente tal pessoa terá maior afinidade com leituras que dizem respeito a este esporte. Para uma outra que viveu sob um contexto em que a política era a questão central, poderá se alinhar à leituras que preencham esse tipo de interesse. Porém, creio ser fundamental destacar que alguns eventos particulares da vida de cada ser, pode modificar completamente esse panorama. Um caso interessente é de um rapaz que viveu em meio às discussões políticas e gostava muito do tema. Ao ter a notícia de que seu pai fora morto por suas convicções políticas em um determinado regime ditatorial, tal indivíduo simplesmente não podia mais ouvir ou discutir este tema. Como disse antes, é facil observar que os caminhos percorridos por cada um são profundamente complexos, mas, mesmo assim, ainda acredito na concepção de que, em linhas gerais, os interesses literários de uma pessoa estão intimamente ligados ao processo de desenvolvimento cultural de sua própria existência.

Voltando aos motivos que pretendia expor, gostaria de destacar o primeiro. Após ler "O jogador" fiquei encantado com o modo como o autor conseguiu comparar a vida com o jogo. Um exercício literário de primeira grandeza. Mais tarde descobri que o livro foi escrito para dívidas de jogo do proprio Dostoiévski. Não por acaso o nome da obra era "O jogador" e tratava do vida de um viciado em jogo.

Depois desse resolvi ler Os Irmãos Karamazovi. Retirei o livro na biblioteca da Universidade e terminei a sua leitura depois de uns dois meses. Este era simplesmente impressionante. Fiquei encantado com as discussões nele propostas, tais como a existência de deus, a imortalidade da alma, a necessidade de amar ao próximo, entre outros assuntos.

Nesse sentido é interessante observar que a temática sobre existência de deus sempre teve repecrussão particular em minha vida, já que desde sempre as dúvidas acabavam me surgindo. Assim foi que passei a admirar a obra do pensador russo. Na sequência li Crime e Castigo, Notas do Subsolo, Recordações da Casa dos Mortos, O Idiota e Noites Brancas.

Sem dúvida me identifiquei muito com Notas do subsolo pelo seu tom melancólico, solitário e e existêncial. A palavra subsolo já antecipa muitos de seus signifcados. Por ter construído alguns raciocínios diferentes, sempre achei difícil encontrar algum eco em obras literárias. Pois não foi o caso com este livro. Nele, acabei por me reconhecer. Como digo sempre. Uma grande obra pode ser aquela que sintetiza tudo o que você pensa de modo difuso, sem uma organização exata das idéias. Aí está mais um motivo da minha simpatia por seus livros.

Um exemplo deste fato é uma de suas singelas descrições. Por muitos anos eu venho repetindo que a minha morte ideal se daria aos 30 anos, pois depois de atingir essa idade, a vida não vale a pena ser vivida, já que é o momento em que inicia a nossa decadência. Casualmente, em um trecho dos seus livros encontro a seguinte passagem:
Aliás, perto dos trinta anos, pode ser que sinta saudade dela, mesmo inacabada, e irei... não sei aonde. Mas, até os trinta anos, tenho a certeza, minha mocidade triunfará de tudo, do desencanto, do desgosto de viver. Muitas vezes tenho perguntado a mim mesmo se haveria no mundo um desespero capaz de vencer em mim esse furioso apetite de viver, inconveniente talvez; e penso que ele não existe, pelo menos antes de trinta anos (p. 235) Nosso pai não quer renunciar a ela antes dos setenta anos, ou mesmo dos oitenta. Disse-o muito seriamente, embora seja um palhaço. Agarra-se à sua sensualidade como a um rochedo... Na verdade, após os trinta anos, não há outro recurso talvez. Mas é vil entregar-se a isso até os setenta. Melhor vale cessar aos trinta. Conserva-se uma aparência de nobreza, ao mesmo tempo que se engana a si mesmo (p. 237) (DOSTOIEVSKI, Fiodor. Os irmãos Karamazovi. São Paulo: Martin Claret, 2007).

Além disso, existem algumas proposições de Dostoievski que nos fazem pensar com cuidado. Em Os Irmãos Karamazovi, ao tratar de vaga noção de cristã de que temos que "amar ao próximo", independente de tudo, o autor escreve:
Mas se o doente, cujas úlceras tu lavas, te pagar com ingratidão, se puser a atormentar-te com seus caprichos, sem apreciar nem notar teu devotamento, se gritar contra ti, se se mostrar exigente e queixar-se mesmo à diretoria (como acontece muitas vezes quando se sofre muito), farás então o quê? Continuará o teu amor? (p. 63)
Este pequeno trecho certamente exige uma reflexão profunda no que tange a um dos principais aspectos da teologia cristã. Apresentando um caso concreto, a obra nos possibilita por em xeque a tese do "amor ao próximo", entendida como uma obrigação para com todas as pessoas.

Por último, creio que os temas das obras de Dostoievski são universais. O sentido da vida e a existência de deus são assuntos que atravassam a vida da grande maioria dos seres pensantes, e por tratar de tais temas de forma profunda e reflexiva é que considero Fiodor Dostoievski o maior escritor de todos os tempos.