terça-feira, 31 de março de 2009

O prazer de gerar repulsa

Em duas obras de autores distintos, captei um sentimento que talvez seja comum em diversas pessoas: a vontade de produzir aversão ao outro a partir de sua própria estética.

Em Jean Genet:



É preciso, à medida que essa lepra me vence, que eu a vença e que eu seja o vencedor. Tornar-me-ei, pois, cada vez mais ignóbil, cada vez mais um objeto de nojo, até o ponto final que ainda não sei o que é, mas que deve ser comandado por uma busca estética tanto quanto moral.
GENET, Jean. Diário de um ladrão. São Paulo: Rio Gráfica, 1986. p. 26.


Em Dostoievski:



Sem querer, vi-me de relance num espelho. Meu rosto desfigurado me pareceu extremamente repuslivo: pálido, cruel, vil, com os cabelos em desordem. "Não importa, estou feliz com isso", pensei, "parecer repulsivo me deixa de fato satisfeito; gosto disso..."

DOSTOIEVSKI, Fiodor. Notas do Subsolo. Porto Alegre: L&PM, 2008. p. 102


Gostei.

Curiosidade existencialista

O primeiro literato existencialista realmente foi Dostoievski. E agora não sou eu que digo. Essa semana estava lendo a edição nº7 da revista Entre Clássicos, dedicada ao gênio russo, e observei que no artigo sobre o livro Memórias do Subsolo existe um subtítulo denominado "Existencialismo pioneiro". Nos parágrafos seguintes o texto de Joca Reiners Terron afirma que o livro de Dostoievski deu-se a conhecer antes da divulgação mundial da obra de outros pioneiros da filosofia existencialista como o dinamarquês Søren Kierkegaard e o alemão Friedrich Nietzsche. Isso está ná página 61, para quem gosta de conferir. A revista foi publicada pela primeira vez em 2008 e foi relançada em 2009. É da boa editora Duetto Editorial.

Vitória Amarga, no Ciclo de Cinema Histórico

Ontem tivemos o segundo filme deste ciclo: Vitória Amarga (Dark Victory), do diretor Edmund Goulding, de 1939. A responsável pelos comentários do clássico estrelado por Bette Davis, foi a minha amiga Viviane Bandinelli. O público girou em torno de 30 pessoas. A temática é sobre mulheres. A seguir, fotos da sessão:

Amanda (mediadora) e Viviane (Comentarista)


Presentes na sessão: Nielle, Guilherme e outro ser que não sei o nome.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Ed Motta

Esse foi construído em homenagem ao grande cantor. Fica na Serafim, entre a Andradas e a Silva.

Para ver em tamanho maior, clique na imagem.

O começo do XXI Ciclo de Cinema Histórico

Ontem inciou mais um Ciclo de Cinema Histórico. O vigésimo primeiro. O público de 46 pessoas foi bravo. O filme mudo A Caixa de Pandora, de 1929, dirigido por G.W. Pabst, durou mais de duas horas. E como o Cristian (comentarista) salientou, filme mudo para aqueles que vivem no século XXI é complicado. De qualquer modo, valeu conhecer um pouco sobre o tal de expressionismo alemão. No fim ainda sobraram 36 guerreiros!

Abertura comandada por Alexandre Maccari


A mesa: Cristian (comentarista) e Camila (mediadora)

Marilena Chaui

No meio do mês de março, dando aquela passada básica pelas bancas, eu e Cláudia encontramos uma revista que publicava nova entrevista com a filósofa Marilena Chaui. Chegando em casa, lembramos de um história ocorrida há uns três anos, por aí e que agora vou contar, por mais trágica que ela seja.

Nesta época eu estava na faculdade de história. Cheguei cedo para a aula que iniciava às 7:30 da manhã, mas não lembro de qual disciplina exatamente. Bom, o fato é que ao adentrar o CCSH, eu e Bruno, meu colega, nos deparamos com um aviso na porta do prédio avisando que Marilena Chaui estaria às 8 da manhã na sala dois mil e alguma coisa. Simplesmente inacreditável! As perguntas não paravam de surgir em nossas cabeças.

- Como que não nos avisam com antecedência?
- Por que colocaram ela numa sala de aula pequena?
- Bah, faltando meia hora para começar, a sala já deve estar cheia!

Essas eram algumas de nossas dúvidas e comentários. Não demorarmos muito e, afoitos, subimos as escadarias. No princípio do corredor olhamos para a sala e vimos que o movimento era mínimo. Na frente da sala não havia ninguém. E eu dizia:

- Mas como que ninguém vem prestigiar a Marilena nesta merda de universidade?!

Ok. A raiva era enorme mesmo. E por incrível que pareça, a desconfiança de que aquilo era uma furada nem passava por nossas mentes. Continuei dizendo:

- Marilena aqui no prédio! Inacreditável! Finalmente vou ter a oportunidade de conhecer ela de perto. Vamos lá na sala pra pegar um bom lugar!

Entrando vimos que havia uma pessoa mexendo num computador. E no fundo da sala estava um telão enorme. Eu pensei, cadê a mulher? Perguntei para a moça e ela nos disse que Marilena iria surgir somente às 8 horas, e que ali aconteceria uma tal de tele-conferência ao vivo com ela. Esta guria falava num tom de felicididade doentil e assustador. Mal sabia ela que naquele momento eu queria trucidá-la.

Ai, ai. A situação foi tão frustrante que não tivemos vontade de ficar pra ver a tal de conferência virtual. Voltamos para a aula meio descrentes nos avisos que apareciam na entrada do prédio. Foi uma pegadinha de primeira, mas que serviu de remédio para nossa falta de sensibilidade. Tanto que na semana seguinte estava lá: Francisco de Oliveira na sala tal. Pois é, aí eu já não caía mesmo. Tinha me vacinado agora. Queria mesmo era ver a Chaui. Esse foi o momento em que estive mais próximo da grande filósofa. Talvez por saber que dificilmente irei encontrar ela perdida em alguma sala de aula em Santa Maria, insconscientemente comprei a revista com a sua entrevista na banca. Coisas da vida.