terça-feira, 28 de abril de 2009

Delírios mentais em tons de laranja

Remexendo há dias atrás no livro O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder (São Paulo, Cia das Letras, 1995) em busca de informações a respeito da filosofia de Kierkegaard, lembrei de algo que até hoje me parece um tanto estranho: comentei com a Cláudia que sempre que pensava nas imagens de Kierkegaard e Spinoza, ambas sempre surgiam em minha mente em tons de laranja.

Spinoza (19632-1677) e Kierkegaard (1813-1855)

Buscando compreender esse fato, comecei a lembrar de algumas circunstâncias que de alguma forma podem explicar melhor o caso.

Creio que tudo teve início quando li esse mesmo livro, O Mundo de Sofia, e descobri que Spinoza tinha nascido na Holanda, um país nórdico. Como sabemos, a Dinamarca, país onde nasceu Kierkegaard, também está localizada na região norte da Europa. E a confusão deve ter começado aí. Com meus 15 anos acreditava que ambos eram holandeses.

Mas onde entra o laranja na história?

O uniforme de 1994

Pois bem, para mim desde os 10 anos a Holanda esteve associada à cor laranja em função do uniforme utilizado pelo país em sua participação na Copa de 1994, a qual acompanhei de perto. Daí advinha então a minha visão alaranjada de Spinoza e Kierkegaard. Porém, tenho que fazer um acréscimo. Até hoje não conhecia a fisionomia do filósofo dinamarquês. Sempre quando pensava no seu rosto, o que me vinha à cabeça era a figura desenhada no famoso quadro O grito (de Edvard Munch, 1893), mas, assim como Spinoza, sempre em tons de laranja.

Nesse momento, esse fenômeno eu não saberia explicar corretamente, mas investingando as minhas próprias sensações, lembro que no instante da leitura sobre Kierkegaard no Mundo de Sofia, a impressão que me ficou dele sempre foi a de um terrível sentimento de alguém profundamente mergulhado no cristianismo, mas que tinha suas dúvidas em relação à fé, portanto, uma pessoa em desespero. E desespero e horror é exatamente o que vejo no rosto da pintura, que, no meu caso, aparece através de uma lente laranja.

O grito, de Edvard Münch (1893), ou, para mim, um Kierkegaard estilizado...

É interessante observar que não apenas a cor laranja atravessa minha vivência, mas a fruta também. Em uma aula de 2004, apresentando um trabalho sobre o princípio da era moderna, descobri que a laranja era um importante símbolo de riqueza no universo da burguesia flamenga (holandesa) ainda no século XV. Devido a este fato, um grande comcerciante chamado Giovanni Arnolfini, com o intuito de exibir e afirmar a todos o seu grande poder econômico pediu que o famoso pintor holandês Jan van Eyck pintasse ele e sua mulher em um quadro magnífico que ficou conhecido como O Casal Arnolfini, de 1434. Tente perceber na imagem que ao lado esquerdo do quadro, próximo à janela, aparecem algumas laranjas. No século XV, as laranjas eram raríssimas no norte da Europa e somente as famílias abastadas podiam adquirí-las para consumo. Decorre daí a impotância da laranja como representação da riqueza e do luxo entre a burguesia holandesa da era moderna.

O casal Arnolfini, de Jan van Eyck (1434)

Bom, acho que chega. A doideira foi grande, então ficamos por aqui.

Viva o laranja!

P.S. Clique nas imagens para ampliá-las

Nenhum comentário:

Postar um comentário